O 2º Império Brasileiro
    José Tadeu Cordeiro

 

 

Em 1840 o café começara a proporcionar os primeiros saldos na balança comercial. É esse o ano da maioridade.


    Quando se utiliza formalmente do príncipe, levando-o antecipadamente ao trono, a classe senhorial está de posse de condições para realizar o que pretende. A centralização traduz a ascendência, no conjunto da classe dominante, dos senhores de terras e escravos ligados à lavoura cafeeira. A perda de substância na exportação entre 1820-1840 atrasou essa alteração e, é por isso que no período Regencial, o poder central não chegou a ser exercido na sua plenitude, surgindo as rebeliões periféricas que resistia ao poder central. Desde que a fração ligada ao café passava ao primeiro plano, o Estado passava a ter condições efetivas para exercer sua autoridade.


    Em 1834, com o Ato Adicional, o país adotava uma descentralização que permitia aos senhores de terras a função dominante em suas áreas, e, com a criação da Guarda Nacional, os senhores de terras investiram-se do poder militar. Nelson Werneck Sodré, de quem retiramos essas idéias, acredita que com essa medida, valorizou-se o fracionamento e houve uma evidente dispersão da autoridade central. No Rio Grande do Sul, os estancieiros tornaram-se chefes militares oficiais, quando já o eram de fato. Enquanto estiveram absorvidos pelos seus problemas regionais, tudo correu mais ou menos bem para o centro (Estado). Quando acreditaram que o centro pretendia arrancar-lhes mais do estavam dispostos a dar (tributando-os) e, que não os ajudava a resolverem seus problemas regionais, a ameaça converteu-se em guerra.


    A lei reguladora do Ato Adicional podou muito daqueles poderes, anunciando o predomínio da fração ligada ao café. Ao mesmo tempo o Estado (centro) criava um instrumento capaz de tornar efetiva sua ação, o Exército, um poder do Estado central.


    As forças externas que atuaram no processo de Independência das colônias espanholas não se interessavam pela unidade, antes viam com satisfação o fracionamento dessas áreas. A unidade, no caso brasileiro, foi uma tarefa interna, realizada com sofrimentos e muitas vezes com sacrifícios de idealistas. Werneck acredita que foi uma vitória, a última dos senhores proprietários de terras e escravos.


    A nova lavoura (café) representa uma criação original, brasileira, gerada de condições internas e particularmente, com recursos internos. Só por isso já anunciava o novo e, o que a distingue é sua capacidade de aproveitar o que já existe para gerar o novo. O café, um produto novo, numa região nova (Rio de Janeiro e São Paulo), ensaia seus primeiros passos com os meios de produção disponíveis, ou seja, aproveitava-se da grande propriedade agrícola e do trabalho escravo, e volta-se para o mercado externo, dando continuidade a uma estrutura colonial de produção.


    Mas à medida que a produção de café se desenvolve e, com isso aumenta a necessidade de novos escravos enfrenta a luta abolicionista, que já em 1850 proibia a entrada de novos escravos no país. Progressivamente, transformam-se as condições de trabalho, dando ensejo à vinda de imigrantes europeus para trabalharem nas novas regiões dominadas pelo café.

 


    A lavoura cafeeira oferecia margem de coexistência com lavouras de subsistência, o que permite um surto demográfico e leva a urbanização ao interior, impulsionando a diversificação de culturas, embora para consumo interno.


    Além das mudanças internas, o café transformou o Estados Unidos da América no maior consumidor de produtos brasileiros, recebendo mais da metade das exportações do produto. A Inglaterra, nossa principal parceira comercial, cujos principais contratos terminaram em 1843, teve incidindo sobre seus produtos a tarifa Alves Branco, que tributava as importações, uma maneira que o Império encontrava para melhorar suas finanças. A Inglaterra vai reagir tributando a entrada de açúcar brasileiro no seu território e em 1845, baixa o Bill Alberdeen, que permitia aos navios britânicos apresarem navios transportando escravos, em alto mar. Com essa atitude, os britânicos transformam-se em vigilantes, unilaterais, da consciência moral do mundo e,a Inglaterra acelera a decadência açucareira, mas a fração ligada à exportação de café já é dominante e já está mais voltada ao mercado consumidor norte americano.


    Com a consolidação da classe senhorial no poder (ela que foi responsável pela independência, realizando-a de conformidade com seus interesses e com um mínimo de alterações econômicas e sociais), estrutura o aparelho do Estado para servi-la, quer por imposição do centro, quer por acordos com suas frações regionais.


    Nas áreas tradicionais, com o recuo das lavouras de açúcar e algodão, houve uma queda no trabalho escravo, criando uma “espécie de servidão” no campo ou transferindo os trabalhadores, ainda como escravos, para as regiões cafeeiras.


    Os recursos que haviam sido empregados no tráfego de escravos foram deslocados para a agricultura (cafeeira) e a infra-estrutura (aplicados principalmente no Rio de Janeiro e nas novas ferrovias, que ligavam os portos – Santos, as regiões produtoras de café).


    O domínio pela classe senhorial está consolidado e a parcela considerável da renda que permanece no país, a ela se destina.


    A área de mais rápido desenvolvimento, a da cafeicultura do Oeste Paulista, procede à transformação do regime escravocrata pelo colonato, patrocinando uma imigração em massa dos trabalhadores da Europa (italianos, alemães, portugueses, espanhóis, etc.) para o Brasil.


    O trabalho livre conviveu com o trabalho escravo por duas décadas, mas uma vez estabelecida à viabilidade financeira do trabalho livre, cresce a luta abolicionista, que possibilitará a abolição da escravidão em 1888 (Lei Áurea) e, ao mesmo tempo desvincula a classe senhorial da sorte do Imperador D. Pedro II.


    Duas lutas dominaram o Segundo Império: de um lado a luta abolicionista, encabeçada por homens como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e, de outro a luta pela República, no início pregada pelos cafeicultores do Oeste Paulista e, que aos poucos se firmava também entre os oficiais do Exército e das classes médias.


    Com o fim da escravidão (1888) a sorte do trono estava selada, no ano seguinte, em 15 de novembro de 1889, um golpe, chefiado por Deodoro da Fonseca, depõe o Imperador e dá inicio a República Brasileira.


    José Tadeu Cordeiro baseou-se em Nelson Werneck Sodré, Formação Histórica do Brasil.

 


   Interpretando o texto

1.Quais as condições do Brasil Regencial? O que permitiu a antecipação da posse de D Pedro?


2. Explique as contradições entre o “novo” e o “velho” na expansão da lavoura de café?


3. Quais as mudanças internas produzidas pelo café?


4. Explique as alterações do trabalho provocadas pelas mudanças econômicas ocorridas no Brasil independente e a luta abolicionista.


5.Quais as mudanças ocorridas com o fim do tráfego escravo?


6. Qual a relação entre as idéias republicanas e abolicionistas e o fim do Império?