Economias emergentes ofuscam Europa
Christopher Rhoads / The Wall Street Journal

 

 

Embora eles tenham se reunido aqui no coração da Europa, os líderes empresariais e de governos no Fórum Econômico Mundial deste ano tinham pouco a dizer sobre o continente.

 

Em vez disso, todo o burburinho se concentrou nas economias rapidamente emergentes do mundo – especialmente Brasil, China e Índia – e em como a chegada delas está mudando a balança de poder econômico e político do planeta.

 

A principal questão para a Europa, que arca com uma população envelhecida e uma economia perenemente lenta, era se ela pode continuar relevante num mundo moldado por esses novos gigantes econômicos.

 

“A Europa vai ser uma peça relevante?”, perguntou o brasileiro Carlos Ghosn, diretor-presidente da montadora japonesa Nissan Motor Co. “Sim, relevante; mas não em primeiro plano.”

 

Num painel que se discutia as perspectivas para a economia mundial não havia europeus, mas dois asiáticos, dois americanos e um israelense. A economia européia é “muito, muito mais lenta”, foi tudo que Jacob Frenkel, presidente das operações internacionais da Merril Lynch, teve a dizer sobre o continente. Outros brincaram. “A economia da China deve ser maior que a da Alemanha em 2008, disse Victor Halberstadt, um professor de Economia da universidade Leiden na Holanda, em outra sessão. “Isso desde que a Alemanha cresça.”

 

O que torna essa aparente falta de interesse na Europa notável são os passos históricos que a região está dando para aumentar sua estrutura política e econômica: adicionar dez novos países das Europas central e do leste à União Européia; escrever uma Constituição; e ajustar-se a trabalhar com uma nova moeda única para 12 países, entre outras coisas.

 

O senador americano Joseph Biden sugeriu que essas enormes tarefas, paradoxalmente, talvez ajudem a explicar porque o papel mundial da Europa parece diminuído. “A Europa está totalmente ocupada com si mesma, até o ponto de exclusão de tudo mais”, disse. “E por que não estaria? Ela está no meio de uma empreitada gigantesca, incrível e histórica.”

 

Líderes em Davos disseram que a Europa continuará na cesta de poder global apenas se puder resolver essas questões e acelerar a integração de seus membros numa entidade única. “A UE precisa ter uma voz única que tem que ser sistematizada”, disse Jeffrey Joerres, presidente da Manpower Inc., empresa americana de serviços de treinamento de trabalhadores e emprego. “Sem isso, suas políticas não terão peso.”

 

Embora as grandes economias da Europa, especialmente Alemanha e França, tenham começado a adotar medidas para modernizar suas economias, como baixar impostos, cortar benefícios sociais e arrumar os sistemas previdenciários estatais, a velocidade da mudança em outras partes faz a Europa parecer estar parada, ou ficando para trás.

 

Um relatório recente da Goldman Sachs & Co. sobre Brasil, Rússia, Índia e China diz que o crescimento nessas economias fará com que em 2025 o PIB combinado delas seja metade do de Alemanha, França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos juntos (o que ela chama de G-6). Em 2040, suas economias superarão a do G-6. Hoje, a produção dos quatro países soma menos de 15% das economias do G-6, segundo o relatório.

 

As previsões, baseadas em projeções demográficas, acumulação de capital e crescimento de produtividade, sugerem que a mudança está acontecendo até mais rápido do que muitas pessoas se dão conta – com profundas implicações para a economia global. A China deve superar a Alemanha em quatro anos, o Japão em 2015 e os EUA em 2039, prevê o relatório. Apesar de toda a atenção dedicada a China, a Índia deve crescer ainda mais rápido, por um período mais longo, segundo o relatório.

 

“Está claro que Davos não foi apenas sobre as economias dos EUA e Europa”, reconheceu Jean Lemiérre, presidente do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento. “Novos parceiros foram trazidos para o debate porque eles afetam muitas questões diferentes no momento.”

 

The Wall Street Journal Américas,OESP,26.01.2004, B11.

 


 

Interpretação do texto

1ª Como sustentar que financistas e economistas concentrem suas discussões em torno dos países emergentes?


2ª Qual a previsão da Goldman Sachs & Co sobre a economia dos emergentes e o G6?