Terceirização de empregos qualificados põe Globalização em dúvida
    Bob Davis/The Wall Street Jounal

 

 

Alguns dos líderes empresariais, acadêmicos e de governo que vêm aqui para o Fórum Econômico Mundial estão expressando dúvidas sobre um dos pilares da globalização.
Eles estão questionando se a economia cada vez mais global vai produzir tantos empregos bem pagos nos países ricos quanto eles antes previam.

 

Sua preocupação deriva do axioma do livre comércio de que quando um país rico manda empregos de chão de fábrica para o exterior, ele cria oportunidades em casa para que os trabalhadores evoluam para empregos mais qualificados.

 

Mas o crescente número de empregos de nível mais alto que está migrando de países ricos para países em desenvolvimento como Brasil, China ou Índia está suscitando temores de que, na verdade, trabalhadores bem pagos em países desenvolvidos não encontrarão empregos igualmente bem pagos de informática, design e médico se o trabalho for para outro lugar. Muitos dos devotos da globalização em Davos temem que a terceirização também possa diminuir o apoio político já em baixa para o livre comércio internacionalmente.

 

“Quando empregos da indústria automobilística foram para o México, dissemos que elevaríamos o padrão e criaríamos empregos melhores”, diz William Daley, o representante do ex-presidente Bill Clinton que trabalhou no Congresso americano pela aprovação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte e agora é diretor geral da SBC Communications Inc. “Dá para continuar subindo na cadeia de emprego?”

 

Sim, sugere Zhu Min, gerente geral do Banco da China, um banco comercial estatal: “Os EUA precisam reposicionar-se. A indústria se foi; os serviços estão indo. Pesquisa e desenvolvimento ainda estão lá. (Os EUA) precisam subir na cadeia (de desenvolvimento).”

 

Outros notam que há substanciais diferenças entre como o comércio afeta trabalhadores na indústria e em serviços. Nos países desenvolvidos, altas barreiras tarifárias a bens importados tiveram de ser derrubadas antes que muitos empregos industriais ficassem em risco, um processo que levou décadas. Mas o comércio de serviços não é muito afetado por tarifas.

 

Embora o número de trabalhadores de serviços americanos cujos empregos foram terceirizados seja pequeno até agora – talvez 250.000 a 500.000 nos últimos três anos – o potencial para mais perda de vagas é imenso, concordam todos os lados aqui em Davos. Brendan Barber, secretário geral de uma confederação sindical britânica, estima que dois milhões de empregos no setor de serviços podem ser terceirizados por países ricos nos próximos cinco anos.

 

A ansiedade que está produzindo entre trabalhadores qualificados em países desenvolvidos – trabalhadores em áreas como engenharia, de software e edição de texto – é palpável.

 

Nos EUA, a terceirização está cada vez tornando-se um tópico político. O senador John Kerry, candidato a candidato democrata a presidente, está propondo mudanças na lei fiscal para desencorajar a transferência de empregos ao exterior e exigir que trabalhadores em centrais de atendimento telefônico identifiquem o país no qual estão localizados.

 

Nas últimas décadas, presidentes americanos promoveram o livre comércio e a integração global como uma estratégia de desenvolvimento econômico. Embora os EUA fossem perder empregos na indústria para países em desenvolvimento, argumentava-se, os EUA ganhavam trabalhos mais qualificados.

 

Com a tecnologia, que está tornando as comunicações mais rápidas e baratas, e a educação, que está criando trabalhadores qualificados em países em desenvolvimento, empresas americanas agora fazem no exterior trabalho que era reservado aos EUA, à Europa e ao Japão.

 

“Não podemos proteger a população americana da realidade”, diz a diretora-presidente da Hewlett-Packard Co., Carla Fiorina. “Há muitos, muitos engenheiros qualificados ao redor do mundo que querem participar” de pesquisa avançada.

 

The Wall Street Journal Américas, OESP, 26/01/2004. B 11.

 

 

Interpretação do texto


1ª Explique a atual situação de empregos nos países ricos e pobres.


2ª O que pensavam os defensores do livre comércio e quais as dúvidas atuais?