In Memoriam

Celso Abbade Mourão

 

Polido no trato com alunos e colegas, atento e

Participativo das grandes questões acadêmicas,

Intransigente na defesa de seus ideais, Celso Mourão

Conquistou o respeito e a amizade até dos adversários.

  

Fahad Moyses Arid

 

 "Desejo recordar alguns traços da vida e da obra de ilustre mestre rio-pretense, Celso Abbade Mourão, em comemoração ao 10° aniversário de sua morte. Um dos pioneiros da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Municipal, dedicou-se por inteiro ao trabalho acadêmico e incansável, cumpriu, como missão, suas funções de educador e de cientista.

 

  Correto, íntegro, coerente, defendia suas idéias com convicção e determinação; foi amigo dedicado e leal, companheiro em todos os anos em que permaneceu ao nosso lado.

 

 Graduado em História Natural pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, após destacado concurso público estadual, assumiu no começo da década de 50, a Cadeira de Biologia do Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves.

 

Na criação da Universidade Municipal, luta travada pelo saudoso professor Daud Jorge Simão, foi o primeiro docente do curso de História Natural ao lado de outros ilustres mestres, como Luiz Dino Vizotto, Alberto Barbosa Pinto Dias(1956) e João Jorge da Cunha (1957). Mais tarde, com Geraldo Meireles, Fahad Moysés Arid e Hermione E.M. Bicudo (1959/60), criaram as bases culturais e científicas desse curso, consolidando a própria Faculdade.

 

Superando dificuldades e vencendo grandes desafios da década de 60, Celso Mourão doutorou-se em   Biologia (1966), viajando, em seguida, para os Estados Unidos da América, onde realizou seu pós-doutoramento na equipe de um dos mais brilhantes geneticistas deste século, Theodosius Dobzansky, na Universidade Rockefeller, de Nova York.

 

Em seu retorno, ao lado de Hermione e Aloysio Gálio, criou notável equipe de trabalho, com alguns ex-alunos que, com o decorrer do tempo, fortaleceu o prestígio nacional do Departamento de Biologia. Suas pesquisas científicas levaram-no a ocupar inúmeros cargos e funções na Ciência brasileira, membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e Assessor Científico da Fapesp, CNPq, Fundos, Finep e Capes.

 

Foi o grande incentivador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Genética) do Ibilce, que viria a produzir dezenas de pesquisadores, mestres e doutores, espalhados pelas melhores instituições do país. Instituiu, com Hermione e Aloysio, a principal linha de pesquisas do Departamento Evolução Biológica, Evolução de Populações — ampliando o prestígio acadêmico de sua equipe.

 

Como mestre, tinha um amor incondicional por suas aulas e seus alunos. Com sua capacidade de trabalho, dedicação desinteressada e disciplina, percorreu brilhante carreira universitária; foi Professor Regente e Professor Titular, Chefe de Departamento, Coordenador de Curso de Pós-Graduação, Membro Titular da Congregação e Vice-Diretor da Fafi-Ibilce, Membro do Conselho Central de Pós-Graduação e Pesquisa e da Comissão Permanente do Regime de Trabalho da Unesp.

 

Educado e polido no trato com alunos e colegas, atento e participativo das grandes questões acadêmicas do Instituto e da Universidade, combativo, intransigente na defesa de seus ideais, Celso Mourão conquistou o respeito, a amizade e admiração de seus amigos e adversários, mesmo daqueles que divergiam, radicalmente, de suas idéias.

 

Em depoimento publicado na Rev.Brás. de Genética (1991), seus colegas de Departamento, após sua morte, em janeiro de 1991, lembram que, para Celso, a vida só seria feliz se devotada ao ensino e à ciência, não havendo nenhuma outra forma de vida igual ou superior, como medida de felicidade; reconhecem sua liderança e destacam sua personalidade afável e amiga, meticuloso na análise de fatos e situações e sempre combativo.

 

Esse é o Celso Mourão que conhecemos, um mestre que honrou sua Comunidade e Rio Preto. Sua morte deixou um grande vazio na Escola, na Universidade, entre seus amigos; encerra-se, com ele, magistral e, ao mesmo tempo, dramático episódio da história da Fafi.

 

Nome de rua em Rio Preto, nome de Escola Estadual e nome de Laboratório do Ibilce, são a modesta e justa homenagem póstuma prestada por Rio Preto e pela Unesp a um dos seus mais ilustres educadores.

 

Seu dignificante exemplo de vida, de trabalho e de educador, bem como sua intransigente luta na defesa da Fafi-Ibilce, devem ser sempre lembrados pelas novas gerações de mestres e alunos que, hoje, se orgulham dessa grande Instituição.

 

Rio Preto deve-lhe sua dedicação integral à grandeza do ensino superior público. Celso Mourão permanece na sólida herança acadêmica que deixou e na saudade dos seus amigos."

 

FAHAD MOYSÉS ARID

Geólogo, professor titular de Geologia e Paleontologia da Unesp, Centro de Geologia Aplicada e ex-Diretor do Ibilce (1975/79).