Israel

    Nenhuma nação viva no mundo pode identificar seus antepassados com precisão. Os judeus/israelenses não constituem exceção. Mas, se interpretarmos o Velho Testamento não apenas como documento religioso, mas como um livro que contém fatos históricos, os judeus podem ser a única nação do mundo a ter sua genealogia bem registrada. A Bíblia nos fala de uma pessoa conhecida como Abraão, o Hebreu, que, obedecendo ao comando de Deus, deixou a Mesopotâmia e estabeleceu-se em Canaã, que, desde então passou a ser a Terra Prometida dos judeus.

    Abraão teve vários filhos, mas a Bíblia fala de dois: Isaac e Ismael, dos quais descendem respectivamente os judeus e os árabes. A Bíblia também nos conta que o neto de Abraão, Jacó, e os filhos deste, mudaram-se para o Egito e se tornaram escravos dos egípcios, tendo deixado o Egito após 400 anos para retornarem à Terra Prometida. O percurso até a Palestina levou 40 anos, tempo necessário para Moisés, seu líder, formar seu caráter enquanto povo livre, disposto a lutar para recuperar Canaã e a obedecer às leis de Deus.

    Os israelitas conquistaram Canaã e se estabeleceram nas margens do rio Jordão, e, depois da morte do sucessor de Moisés, Josué, que os levou à Palestina, foram governados por "juízes". Mas em pouco tempo os israelitas, desejando ser iguais às outras nações, começaram a querer um rei, e assim seu sacerdote, Samuel, foi obrigado a ceder e nomeou Saul. David, que o sucedeu, expandiu as fronteiras de Israel, e seu filho Salomão consolidou a monarquia, reinando sobre um império que se estendia do Egito à Mesopotâmia. Depois do reinado de Salomão o país dividiu-se em dois reinos pequenos e fracos, Israel e Judéia. Ambos caíram nas mãos dos babilônios, que destruíram Jerusalém e expulsaram os judeus, espalhando-os por seu vasto império. Mas, quando foram derrotados pelos persas, estes permitiram o retorno dos judeus à Palestina, até os próprios persas serem derrotados pelos gregos, que conquistaram a Palestina e foram posteriormente seguidos pelos romanos. O regime romano foi um governo duro e cruel, que infligiu aos judeus uma série de desastres -primeiro ao levar alguns judeus a se tornarem cada vez mais fanáticos, culminando na queda de Massada e na repressão à revolta, e, segundo, ao crucificar Jesus Cristo, num ato atribuído aos judeus, que por isso sofreram perseguições por quase dois milênios.

    Todas as perseguições cometidas pela Inquisição na Idade Média, os "pogroms" (massacres organizados de judeus) na Europa Oriental, os libelos de sangue e até mesmo o Holocausto, em nosso século, estiveram, de alguma maneira, ligados à longa inimizade entre judeus e cristãos, que agora começou gradualmente a mudar. Os muçulmanos, que plantaram seu império a partir do século 7, absorveram muitas comunidades judaicas. A vida dos judeus sob o islamismo geralmente era boa. Os documentos do Genizab do Cairo mostram que judeus e árabes conviveram em harmonia durante longos períodos. Árabes e judeus muitas vezes sofriam o mesmo destino quando se confrontavam com um inimigo comum, como os otomanos, que dominaram a região do século 16 até sua derrota na Primeira Guerra Mundial.

    O século 19 simboliza, para os judeus, uma era de renascença. Embora os judeus se encontrassem espalhados pelo mundo, conseguiram conquistar determinados direitos, conceberam e desenvolveram idéias sionistas e começaram a imigrar para a Palestina. Mas o século 20 foi, sem dúvida alguma, o período mais dramático da história dos judeus. Muitos judeus imigraram para a Palestina em função do sionismo e dos pogroms. Os recém-chegados fundaram "kibutzim" (fazendas coletivas) e cidades, criaram uma infra-estrutura econômica, educacional e social e lançaram a luta pela independência política. Essas iniciativas abalaram a textura delicada das relações entre árabes e judeus e os vínculos anglo-judaicos na Palestina. Apesar das tensões, que às vezes terminavam em confrontos sangrentos, o status quo poderia ter se mantido por muitos anos. Mas o acontecimento que mudou o rumo da história judaica foi o Holocausto.

    De repente, ficou claro e evidente que o ódio do qual os judeus eram alvo poderia levá-los à beira do genocídio e da aniquilação total. Assim, o argumento em favor do judeu errante enquanto receita de sobrevivência mudou para uma crença profunda na importância da unidade dos judeus em um só território. E Israel passou a ser visto como o único abrigo e porto seguro para todos os judeus. Três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, David Ben Gurion declarou fundado o Estado judeu, intitulado Estado de Israel. Infelizmente, em seus 50 anos de vida, Israel ainda não viu um único dia em que as pessoas pudessem sentar em paz sob suas videiras e figueiras. As guerras com os árabes começaram a partir do primeiro dia de vida do país e continuaram, acirradas, até que foram assinados acordos de paz com algumas nações árabes, embora o problema palestino ainda não tenha sido resolvido. Israel tem uma longa lista de conquistas: absorveu 3 milhões de imigrantes, criou um excelente sistema de ensino, desenvolveu uma indústria forte, com produtos que são vendidos em todo o mundo. Todas essas realizações e muitas mais foram conseguidas apesar das guerras sangrentas. Mas a paz com os países vizinhos não vai resolver os enormes problemas internos de Israel: a divisão entre os judeus ashkenazis e sefarditas, entre judeus ortodoxos e seculares, o abismo entre fanáticos e moderados, ricos e pobres. Israel está ingressando no próximo milênio com problemas que exigem soluções urgentes. Não há fórmulas mágicas. As melhoras só podem ser conquistadas lenta e, às vezes, dolorosamente. Mas se Israel aprender com os erros do passado, suas chances de se curar serão maiores. A história ensina que os judeus sobrevivem por muito tempo. Por isso devemos dizer com confiança e esperança: "Mazal Tov", Israel. Parabéns a você.