Páscoa com sabor de ovo de chocolate

    AURA PINHEIRO

    Segundo a História, foram os italianos os primeiros a ver nos produtos de chocolate uma forma de dar mais sabor ao simbolismo do ovo e do coelho na Páscoa. No final do século 18 eles já trocavam ovos de chocolate na Páscoa.

    Mas só com a Revolução Industrial e o despertar para o consumismo que a tradição do ovo de chocolate fincou raízes no mundo. A comemoração continua associada ao coelho, símbolo da fertilidade, e ao ovo, que representa a ressurreição de Cristo.

    A tradição perdurou, desde o tradicional ovo de galinha, colorido pelos cristãos primitivos da Mesopotâmia - os primeiros ovos de Páscoa oferecidos como presente - até o ovo confeccionado em açúcar muitas décadas depois pelos povos modernos.

    Já o chocolate é o mais doce entre os símbolos da Páscoa. Para o gerente administrativo da Godiva no Brasil, Vanderlei Aragão, o de boa qualidade deve ter a superfície brilhante, nunca fosca.

    "Os melhores são os que desmancham na boca. Não devem apresentar pontos esbranquiçados ou bolhas estouradas, sinais de chocolate envelhecido", diz ele. O sócio das lojas Chocólatras Anônimos, no Rio, Sérgio Luiz Monteiro, lembra que o chocolate de qualidade não deve conter gordura hidrogenada, usada para conservar o produto, mas que altera o seu sabor.

    Quanto mais o chocolate contém manteiga de cacau, mais é tenro e cremoso; quanto menos contém esse ingridiente, mais é duro e quebradiço. Quando o chocolate é conservado longe da umidade e em uma temperatura de 18 graus, se mantém perfeito para consumo por vários meses.

    O costume de produzir ovos coloridos na Páscoa, quando não se conhecia ainda o chocolate, começou entre os egípcios e os persas que tingiam os ovos com as cores primaveris e os davam para os amigos.

    Os chineses também tinham o hábito de presentear parentes com ovos pintados, na chegada da primavera, como símbolo da renovação da vida.

    A Páscoa dos czares na Rússia era comemorada com brilhantes e pérolas no lugar de açúcar e chocolate. Os ovos fabricados pelo joalheiro Peter Fabergé foram uma síntese do requinte e da sofisticação na Rússia Imperial. Conta a lenda que foi o czar Alexandre III quem encomendou ao joalheiro o primeiro ovo de jóias e pedras preciosas para presentear a czarina Maria pela morte do sogro, Alexandre II.

    Hoje, o chocolate dá forma aos ovos e é o símbolo mais nobre da Páscoa. Comparado ao ouro pelas civilizações maias e astecas, ele chegou a ser usado por esses povos como dinheiro. Era o kakawa (cacau). Mas o naturalista sueco Carl Von Linné tentou batizar o cacau, em 1753, com o nome de theobroma, que, em grego, significa alimento dos deuses. A alternativa despretensiosa da palavra cacau, porém, ganhou da sugestão grega theobroma.

    Os maias da América Central apresentaram o cacau aos astecas ao migrarem para a América do Norte, no século VII. Nessa época eram famosas as festas em que o imperador Montezuma servia chocolate aos convivas. Os espanhóis, então, descobriram a fruta com os astecas, no México, no século XVI. Cem anos depois, a Europa disseminou o chocolate pelo mundo.O próprio cacau, no entanto, levou tempos para se transformar em cobiçadas barras de chocolate. Pouco mais de um século atrás, ainda era conhecido como o ingrediente principal de uma bebida misturada ao gengibre, milho e pimenta. Com a fama de ser afrodisíaca e proporcionar vigor físico, a bebida amarga, que Colombo experimentou em sua quinta viagem à América, em 1502, era servida apenas a figuras ilustres e poderosas.

    Os gourmets do velho mundo trataram de sofisticar a bebida. Em 1720, Florença e Veneza já preparavam chocolate conhecidos internacionalmente em suas famosas cafeterias. Mas só em 1875 o ex-fabricante de velas Daniel Peter teria produzido o primeiro chocolate sólido com leite. O leite é, ainda hoje, segundo nutricionistas, o mistério do sabor moderno do velho cacau em pó.