Caça estelar - Astrônomos batem recordes atrás de galáxias distantes

    Astrônomos americanos e ingleses baseados nos Observatórios Keck, no Havaí, descobriram na semana passada a galáxia mais longínqua já encontrada pelo ser humano. Ainda sem nome, ela é menor do que a Via Láctea, onde fica o nosso sistema solar, e sua luz levou 12,3 bilhões de anos para chegar à Terra. Para ter uma idéia do que isso representa, basta dizer que Andrômeda, a galáxia mais próxima da Via Láctea, está a meros 2 milhões de anos-luz do nosso planeta. Quando um astrônomo volta seu telescópio para os confins do espaço, está fazendo também um mergulho no tempo. Como a imagem que se recebe de uma estrela viajou bilhões de anos no espaço, torna-se o retrato de um passado remoto. No caso da galáxia recém-descoberta, tão remoto que se aproxima da própria origem do universo. Segundo a teoria mais aceita pelos astrônomos para explicar o surgimento das estrelas, galáxias e planetas, o espaço sideral como o conhecemos foi criado há cerca de 13 bilhões de anos numa grande explosão, o chamado Big Bang. Se essas contas estiverem corretas, no momento em que a luz da galáxia captada pelos telescópios havaianos na semana passada foi emitida, o universo tinha 700 milhões de anos. "Nós estamos olhando para uma época em que o universo tinha apenas 6% da idade atual", diz um dos astrônomos que trabalham com o Keck, Esther Hu. "É um território inteiramente novo, que pode nos trazer novas luzes sobre o Big Bang."

    Descobertas como essa só são possíveis graças à extraordinária evolução dos telescópios. Inaugurado em 1995, o Keck é o maior telescópio do mundo, com lentes de mais de 10 metros de diâmetro. Os astrônomos calculam a distância da galáxia pelo comprimento das ondas de luz captadas na máquina. Quanto maior o comprimento da onda, mais longe a galáxia está da Terra. Só agora os cientistas estão começando a aproveitar o potencial do supertelescópio. Em apenas dez meses, essa é a terceira vez que o Keck bate seu próprio recorde na busca de galáxias longínquas. Em julho de 1997, achou uma a 12,1 bilhões de anos-luz, quando era pilotado por uma equipe de astrônomos holandeses, graças ao cruzamento de informações com o telescópio espacial Hubble. Há seis semanas, achou pelo mesmo método outra galáxia 100 milhões de anos-luz mais distante. "Antes do Keck, os astrônomos levavam de seis a sete anos para fazer uma nova descoberta desse gênero", diz o professor de astronomia da Universidade de Washington, Bruce Margon. "Agora, elas são uma questão de meses." O próximo passo será encontrar galáxias de apenas 500 milhões de anos, as primeiras formadas no universo. Essa possibilidade está empolgando os cientistas que só esperavam descobrir galáxias tão distantes na próxima década.