Rumo às estrelas

Ao percorrer 10,4 bilhões de quilômetros, sonda bate recorde de distância no espaço

    A sonda americana Voyager 1 é desde a semana passada o mais distante engenho humano em operação no espaço. Lançada em 1977, a nave atingiu os limites do sistema solar depois de visitar Saturno, Urano e Plutão, entre outros planetas. Percorreu até agora 10,4 bilhões de quilômetros, cerca de setenta vezes a distância entre o Sol e a Terra. Antes disso, somente a sonda Pioneer 10 se havia afastado tanto de seu ponto de partida, ao percorrer 10 bilhões de quilômetros numa rota oposta. A Voyager, mais veloz do que a Pioneer, quebrou o recorde se movendo a 63.000 quilômetros por hora. Está tão longe da Terra que seus sinais de rádio, mesmo viajando à velocidade da luz, demoram mais de nove horas para chegar às antenas receptoras da Nasa, a agência espacial americana.

    O lugar em que a Voyager está agora é um deserto cósmico, frio e escuro. Lá, o Sol é apenas um ponto luminoso que se destaca entre as estrelas. Seus raios chegam até a sonda americana com intensidade 5.000 vezes inferior aos que atingem a superfície terrestre. Como não há nenhuma outra fonte de energia por perto, a Voyager sobrevive exclusivamente da força de seus geradores nucleares. Os cientistas esperam que ela transmita informações valiosas para desvendar os mistérios desse ponto inexplorado da Via Láctea.

    Embora tenha superado as órbitas de todos os planetas, a Voyager permanece ainda sob a influência da atração gravitacional do Sol. Os cientistas acreditam que a nave está na fronteira da chamada heliosfera, uma bolha magnética formada pela expansão contínua de partículas elétricas do Sol. Esse fenômeno é conhecido como "vento solar". Pouco antes da fronteira da heliosfera, a velocidade supersônica de expansão do vento solar é abruptamente reduzida, em virtude do choque com partículas elétricas emitidas pelas estrelas vizinhas. A mais próxima é a Alfa Centauro, mas, para chegar até ela, a luz, viajando a 300.000 quilômetros por segundo, demora quatro anos.

    O choque de partículas na borda dessa bolha magnética cria uma zona turbulenta. É o último desafio para a Voyager ser a primeira nave a ultrapassar os limites da região dominada pelo Sol. "Se nossas previsões estiverem certas, a nave deve superar essa etapa e chegar ao espaço interestelar daqui a aproximadamente dez anos", afirma Edward Stone, diretor do laboratório de propulsão a jato da Nasa. Mesmo tão longe de casa, a Voyager deve continuar a transmitir sinais para a Terra até por volta do ano 2020, quando terá percorrido um total de 20 bilhões de quilômetros. Essas mensagens vão permitir aos cientistas acompanhar de perto sua batalha para vencer os limites da heliosfera. Serão igualmente valiosas aos físicos para entender os fenômenos que ocorrem na fronteira do sistema solar.

    Vozes humanas Além de efetuar pesquisas nos pontos mais distantes do universo, a Voyager é responsável por outra missão importante. Ela carrega um disco de ouro que contém informações sobre a Terra. Isso inclui as silhuetas de um homem e uma mulher e vozes humanas com saudações gravadas em 55 línguas. Mesmo depois de perder contato com a Terra, sua viagem vai continuar no vazio do espaço por milhões ou mesmo bilhões de anos. A possibilidade de que seja encontrada por alguma forma de vida mexe com a imaginação humana.

    Um dos episódios da série Jornada nas Estrelas faz uma engenhosa parábola sobre essa questão. No filme, a tripulação da Enterprise, comandada pelo capitão Kirk, encontra no espaço interestelar uma nave infinitamente mais poderosa, que lhe propõe uma série de desafios. O enigma da origem daquela embarcação supostamente alienígena só termina quando se descobre que ela é nada menos do que a Pioneer 10. Depois de vagar milhares de anos no espaço, a Pioneer tinha acumulado um vasto conhecimento sobre o universo e adquirido vontade própria. Seu objetivo, ao travar contato com a Enterprise, era muito simples: buscar informações sobre seu criador.