TV, o novo olho do mundo

    Invento que hipnotizou gerações tornou-se uma importante testemunha da história do milênio

    Quando o escocês John Logie Baird apresentou seu invento à comunidade científica, no Royal Institution, em Londres, em 1926, jamais poderia imaginar: mais do que um simples objeto, a televisão doava novos olhos ao mundo. Olhos que cresceram e hipnotizaram, com a passagem do tempo. O fato é que a TV criou dependência, mas também foi uma poderosa testemunha da história do século 20.

    A princípio tímido, camuflado em meio ao mobiliário, o primeiro modelo de televisão era também chamado de rádio visual - tinha 56 centímetros de altura e não permitia a transmissão de som e imagem ao mesmo tempo. Na década de 30, aparelhos mecânicos foram substituídos por modelos eletrônicos, que usavam tubos de raios catódicos para projetar elétrons na tela. Durante um bom tempo, o alto custo do invento manteve a TV como mais um dote das elites. Para se ter uma idéia, no Brasil o dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, reforçou a fama de extravagante ao importar uma centena de aparelhos para distribuir entre os amigos mais chegados.

    Já na década de 50, a miniaturização dos componentes eletrônicos permitiu que o aparelho se despisse da enorme carcaça maciça de madeira e se tornasse um objeto leve, pronto para invadir de vez os lares. Em 1969, ficou comprovado. O homem pisava na lua e a TV conquistava definitivamente seu espaço: os 600 milhões de aparelhos ligados, além de reproduzirem aquelas imagens inesquecíveis, também influenciaram a disposição de todos os outros objetos da casa. Não havia mais fronteiras, cômodos ou classes sociais inacessíveis para o aparelho de TV.

    Inovações, como a tela cada vez mais ampla e plana das décadas de 80 e 90, anunciavam o que viria: pela qualidade da imagem - apurada ao extremo com o sistema de alta definição digital, que marcou a transmissão dos jogos da Copa do Mundo em 1998 - e pelos contornos novamente dilatados do objeto, a TV dos sonhos se assemelha cada vez mais às telas cinematográficas.

    Mas muito antes da proliferação da TV a cabo, a partir dos anos 70, e da chegada do controle remoto, nos anos 80, a TV já ocupava corações e mentes. Ao menos dos cientistas, que desde o início do século 19 se preocupavam com a transmissão de imagens à distância. Para a realização desta façanha, foi fundamental a descoberta do selênio, quase um século antes, em 1817, e a avaliação de suas propriedades de transformação de energia luminosa em energia elétrica.

    Em 1930, começaram as primeiras transmissões na França; em 1935, na Alemanha - único país a manter a TV em funcionamento durante a Segunda Grande Guerra -; em 1936, a Bristish Broadcasting Corporation (BBC) foi inaugurada na Inglaterra. Os russos passaram a ver TV em 1938 e os americanos, em 1939 - neste país, aliás, as transmissões regulares em cores começaram em 1954.

    Mas o invento só iria aportar no Brasil depois dos anos 50, com a criação da primeira emissora de TV do país - a TV Tupi, de São Paulo. Ao pousar em território nacional, mais precisamente no porto de Santos, o equipamento de TV era um verdadeiro alienígena, acompanhado por um engenheiro norte-americano que não falava português e não demostrava interesse em ensinar como funcionava a parafernália.

    A primeira imagem transmitida - do frade-cantor José Mojica, ex-ator de Hollywood - foi saudada com euforia tanto pelos ilustres convidados de Assis Chateaubriand, quanto pela multidão, calculada em 5 mil pessoas, que se amontoava em torno do prédio do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Não demoraria muito para que a TV passasse a dividir cama, almoço e jantar com as famílias brasileiras.

    Em 1951, seria inaugurada a TV Tupi do Rio de Janeiro. A instalação do transmissor no Pão de Açúcar (onde ficou até 1957), além de causar resistência da Aeronáutica (que temia prejuízos na transmissão de sinais de pouso e decolagem do Aeroporto Santos Dumont), aumentou o rebuliço entre os turistas, que não entendiam o que era aquele monte de cabos, fios, válvulas e pedaços de estrutura da torre subindo com o bondinho.

    Em 1960, o videoteipe chegava ao Brasil, permitindo às emissoras situadas fora do eixo Rio-São Paulo a substituição de programações locais por reproduções de programas gerados nos grandes centros. No ano de 1961, o país tinha uma audiência formada por 980 mil aparelhos, contra os 7 mil de 1952. Quatro anos mais tarde, as emissoras passariam a contar com a transmissão direta e, em 1972, a retransmissão da Festa da Uva, em Caxias do Sul, inaugurou a televisão a cores no Brasil.