País sofre com alergia

Vida urbana leva ao crescimento do número de casos

O brasileiro está ficando mais alérgico. Estima-se que cerca de 15% da população sofra de algum tipo de alergia. Há 20 anos, esse índice não passava de 10%. A vida enclausurada em apartamentos e a superproteção materna podem estar relacionados com o aumento, segundo Wilson Rocha Filho, coordenador do Serviço de Alergia e Pneumologia Pediátrica do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte (MG).

"A criança que mora no campo brinca fora de casa. Está em contato com a terra o tempo todo. Desde cedo seu sistema imunológico aprende a combater bactérias e outros microorganismos invasores", diz Rocha Filho. "Já a criança que vive nos centros urbanos cada vez menos pratica atividades ao ar livre. Mesmo dentro de casa, ela anda calçada e não senta no chão, se não estiver limpo. As defesas do corpo ficam ociosas, favorecendo o desenvolvimento de processos alérgicos", explica.

A situação se agrava com a superproteção materna. "Hoje em dia, se a chupeta do bebê cai no chão, as mães não deixam a criança colocá-la de volta na boca sem fervê-la antes. A ausência de contato com bactérias e vírus tornam as crianças crescidas em cidades mais vulneráveis às alergias".

Grupos - As alergias podem ser classificadas em três grupos: respiratórias, do aparelho digestivo e da pele. As primeiras são as mais comuns, principalmente a asma e a rinite alérgica. Causadas pelo contato com a poeira e com restos de animais domésticos, elas acometem um em cada cinco americanos. No Brasil, não há estatísticas de incidência por tipo de alergia. Chiado, tosse e espirro são sintomas freqüentes.

No inverno, as alergias respiratórias tendem a piorar, embora não tenham ligação direta com a queda de temperatura. "Se o frio fosse causa de doença, os esquimós estariam extintos. O que acontece é que, nesta época do ano, as pessoas procuram lugares fechados, tendo um maior contato com a poeira", conta Rocha Filho.

As alergias do aparelho digestivo são geralmente causadas pela ingestão de crustáceos ou leite, no caso da criança. "Por isso, o leite materno é tão importante", diz o alergista César Filardi, professor da pós-graduação da PUC-Rio. O paciente costuma ficar com placas vermelhas na pele, quando come o alimento a que tem alergia. Vômito e cólicas são comuns em crianças.

As alergias da pele decorrem do contato com produtos de limpeza, perfumes ou jóias ou ainda da ingestão de medicamentos. A manifestação mais comum é a irritação cutânea. Para evitar os surtos alérgicos, os médicos recomendam atividades ao ar livre e manter distância de fumantes e da poluição.