Vespa parasita usa "arma química" para escravizar aranha
Droga secretada por larva provoca uma mudança no padrão de comportamento do animal hospedeiro
Um ser que invade corpos e domina a mente alheia, forçando
suas vítimas a fazer o que ele ordena, não é mero personagem de ficção.
Para uma aranha da Costa Rica, essa criatura existe.
E não se trata de nenhum extraterrestre. Apesar do nome -Hymenoepimecis sp.-, o
tal invasor de corpos é só uma vespa.
O biólogo William Eberhard, da Universidade da Costa Rica,
descobriu que as larvas desse inseto, ao parasitar a aranha Plesiometa argyra,
provocam mudanças no comportamento da hospedeira.
A larva induz quimicamente a aranha a modificar o formato da
própria teia para que o casulo da vespa possa se desenvolver. Não satisfeita
com a manipulação, ainda mata e devora sua anfitriã.
A relação espúria começa no abdome da aranha, onde a
Hymenoepimecis injeta os ovos. A larva passa de 7 a 14 dias ali dentro,
fartando-se do sangue do aracnídeo, até estar madura o suficiente. Então,
libera uma droga ainda desconhecida na corrente sanguínea da vítima.
A substância atinge o sistema nervoso da aranha. Dopada, ela
passa a repetir um único padrão de teia, em vez de tecê-lo no formato
circular tradicional. Sem saber, o aracnídeo está providenciando o suporte
perfeito para o casulo da parasita.
Na noite em que a teia fica pronta, a larva irrompe do corpo
da aranha, matando-a. Para completar a exploração, ela devora sua
ex-hospedeira. Só então começa a entrar no casulo, onde se transformará numa
vespa adulta.
"É uma descoberta e tanto", disse o psicólogo César
Ades, da USP, especialista em comportamento de aranhas. "É a primeira vez
que se vê uma interação química tão complexa entre parasita e
hospedeiro", afirmou. A exploração alheia não tem limites. Nem mesmo no
reino animal.
(CLAUDIO ANGELO)