O poder da inteligência
Pesquisas revelam que as pessoas com QI elevado têm também inteligência
emocional com alto potencial e boas chances de realização pessoal e
profissional. Sabe-se agora que o nível de inteligência da humanidade tem
aumentado muito. E, segundo os especialistas, existe um arsenal de recursos para
expandir a capacidade mental das pessoas, sobretudo a inteligência das crianças
Eliana Giannella Simonetti e Denise Ramiro
As fotos acima são de sócios de uma organização peculiar: a Mensa Brasil. Ela é
o braço brasileiro de um clube internacional (com site na internet no endereço
www.mensa.org), nascido na Inglaterra em 1946, que reúne alguns dos donos dos
mais altos quocientes de inteligência (QIs) de todo o planeta. Conversar com
essa gente é uma experiência que comprova algumas das últimas descobertas feitas
pelos cientistas que pesquisam a inteligência e o comportamento humanos. Essas
pessoas tendem a ser mais curiosas, seus interesses abrangem um universo maior e
a relação delas com o mundo é mais rica. Há os gênios ranzinzas e os sábios
ermitãos, mas tudo indica que estes são exceção à regra. Pelo que a ciência vem
reafirmando, o quociente de inteligência medido pelos testes mais tradicionais
(aqueles que detectam a capacidade de raciocínio lingüístico, matemático e
lógico) indica também o potencial da pessoa para se relacionar com os outros e
para enfrentar os problemas do dia-a-dia.
Nessa perspectiva, o QI seria um fator importantíssimo para o sucesso na busca
da felicidade. "As pesquisas têm demonstrado que as pessoas com menor quociente
de inteligência tendem a ter pior performance na escola, carreiras profissionais
problemáticas, laços familiares frágeis e, por tudo isso, a apresentar mais
freqüentemente quadros depressivos", diz a psicoterapeuta americana Cathi Cohen,
que trabalha com programas de treinamento de crianças em Washington e há quinze
anos pesquisa a relação entre inteligência e felicidade.
O roqueiro Roger Rocha Moreira, do grupo Ultraje a Rigor, tem 44 anos e QI 172 –
altíssimo. O QI médio fica entre 90 e 110. Ele está em uma das fotos que
ilustram a abertura desta reportagem. Roger se alfabetizou sozinho aos 3 anos de
idade, pulou a 4ª série primária porque já sabia tudo que estava sendo ensinado
e chegou ao 2º ano do curso de arquitetura antes de decidir seguir carreira
musical. "Sempre consegui tudo que quis", ele diz. Há outros exemplos de pessoas
inteligentes, bem-sucedidas e bem conhecidas dos brasileiros no decorrer desta
reportagem. Como se verá, quem tem alto quociente de inteligência não precisa
necessariamente ter um diploma em física quântica. O QI de Jayne Mansfield,
símbolo sexual produzido para fazer frente a Marilyn Monroe, era 163. O ator
James Woods estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o renomado MIT.
No teste para entrar na escola acertou as 800 questões de conhecimentos gerais e
779 das 800 de matemática. Seu QI: 180. E a atriz Sharon Stone, que sempre é
lembrada pela cruzada sensacional de pernas que dá no filme Instinto Selvagem,
entrou na universidade aos 15 anos de idade e tem QI 154.
Não tão famoso, o médico e neurocirurgião paulista Joel Augusto Ribeiro
Teixeira, 32 anos, é o presidente da Mensa Brasil. Sua mulher, Márcia Hartmann
Teixeira, neurologista e musicista nas horas vagas, também é sócia da Mensa.
Convivendo com computadores, filmes falados em inglês, videogames e com os
amigos dos pais, os dois filhos, Felipe, de 1 ano e meio, e Marina, de 3 anos e
meio, desenvolveram habilidades precoces. Felipe canta várias músicas de cor e
reconhece notas musicais. Marina começou a falar aos 8 meses e aprendeu a ler
sozinha aos 3 anos. E canta músicas em inglês sem nunca ter aprendido a língua –
apenas repetindo o som que escuta.
A família de Joel é um exemplo de outra conclusão a que os pesquisadores da
mente humana estão chegando: de que o QI médio da população mundial tem se
elevado. E não pouca coisa. Na Inglaterra, o salto foi de 27 pontos desde 1942.
Nos Estados Unidos, foram 12 pontos desde 1932. Na Holanda, em dez anos se
registrou um salto de 20 pontos, e, na Argentina, 22 pontos a mais desde 1964.
Em 25 países onde as medições acontecem de forma regular, verificou-se um
progresso notável no nível intelectual da população, e os pesquisadores
acreditam que a descoberta pode ser generalizada para o planeta. "As
transformações são dramáticas", diz Oliver Sacks, neurologista inglês, professor
no Albert Einstein College of Medicine, de Nova York. "Devem estar ocorrendo
mudanças e reorganizações fisiológicas e anatômicas na microtextura do cérebro
que ainda não podemos entender plenamente." A inferência que se pode fazer é a
seguinte: com uma cabeça melhor, o quociente de felicidade da humanidade, por
assim dizer, também deve estar mais alto.
No Brasil a prática da medição do QI não é muito difundida. Normalmente os
testes são aplicados em crianças que apresentam comportamento destoante na
escola, no clube ou em casa. São crianças que têm deficiências de aprendizagem
ou de relacionamento social. Portanto o Brasil não contribui com informações
para os trabalhos feitos por neurologistas e psicólogos. A instituição que
aplica provas regulares e formais no país – e isso há apenas um ano – é a Mensa
Brasil.
Outro exemplo da evolução generacional da inteligência é o da família de Carlos
Leite, engenheiro. Leite tem QI 164. É um expoente na faculdade, adora
matemática, toca guitarra, lê tudo que lhe cai nas mãos. Um de seus sobrinhos,
no entanto, conseguiu superar o índice já alto do tio no teste de QI. Pedro
Moreira Graça, de 15 anos, tem QI 168 e seu irmão, André, de 16 anos, chega aos
152. Quando criança, André observava a irmã mais velha aprendendo a ler. Aos 4
anos, numa pizzaria, leu o cardápio e escolheu o sabor de sua preferência. A
máxima de André: "Ser inteligente não é saber muita coisa. É saber o que é
necessário". Pedro quer estudar filosofia e psicologia. André prefere composição
musical. Os irmãos são diferentes em várias coisas. Em comum, possuem uma
inteligência excepcional, maior que a do tio-cabeça.
As explicações mais razoáveis para a elevação do nível médio de inteligência da
população têm a ver com alguns dos progressos do mundo moderno. São as
seguintes:
* As pessoas estão mais expostas a informações, estímulos visuais e desafios.
* As famílias são menores, o que permite aos pais dar mais atenção aos filhos,
responder a suas perguntas com maior paciência.
* O trabalho, de forma geral, exige maior esforço mental e faz com que as
pessoas aprimorem seus conhecimentos lendo ou viajando.
* Até as atividades de lazer demandam maior conhecimento hoje que no passado.
* Computadores, videogames e holografias formam cérebros acostumados a lidar com
várias dimensões e aumentam o poder de concentração.
* O novo modelo de escola permite que as crianças mostrem e desenvolvam seus
interesses. Aulas monótonas estão cada vez mais em baixa. Os alunos estão mais
interessados em entender processos que em decorar dados.
* A globalização amplia o universo individual e familiar, põe o indivíduo em
contato com culturas, línguas e costumes diferentes.