O Que São Vacinas?
Professor Ivan Tavares Scotelari de Souza
Introdução
As vacinas são substâncias biológicas introduzidas nos corpos das pessoas a fim
de protegê-las de doenças. Na prática, elas ativam o sistema imunológico,
"ensinando" nosso organismo a reconhecer e combater vírus e bactérias em futuras
infecções.
Para isso, são compostas por agentes semelhantes aos microrganismos que causam
as doenças, por toxinas e componentes desses microorganismos ou pelo próprio
agente agressor. Nesse último caso, há versões atenuadas (o vírus ou a bactéria
enfraquecidos) ou inativas (o vírus ou a bactéria mortos).

Ao ser introduzida no corpo, a vacina estimula o sistema imunológico humano a
produzir os anticorpos necessários para evitar o desenvolvimento da doença caso
a pessoa venha a ter contato com os vírus ou bactérias que são seus causadores.
A aplicação de vacinas, em alguns casos, provoca reações como febre, dor em
torno do local da aplicação e dores musculares.
Há um risco, baixíssimo, em torno das substâncias feitas de microorganismos
inativos. Indivíduos com imunodeficiência (incapacidade de estabelecer uma
imunidade efetiva) estão sujeitos a esse problema. Há casos raros em que os
vírus atenuados provocam a enfermidade. Em outros casos, as vacinas não têm
efeito no corpo, quando o sistema imune não responde adequadamente. Diabetes,
uso de esteroides, infecção por HIV, idade avançada e problemas genéticos estão
entre os fatores que podem enfraquecer o sistema.

A surpreendente história das vacinas e como elas agem no nosso corpo
As vacinas estão tão bem incorporadas ao nosso mundo que geralmente nem paramos
pra pensar sobre elas. Tratam-se de substâncias biológicas introduzidas no nosso
corpo com o objetivo de ativar o sistema imunológico, promovendo o
reconhecimento e o combate de vírus e bactérias. Elas conseguem essa façanha por
serem feitas de agentes semelhantes aos microorganismos que queremos combater,
ensinando o corpo como lidar com a ameaça. Após a vacinação, o organismo já tem
condições de reagir a um futuro contato com os agentes que causam a doença,
porque o sistema imunológico foi estimulado. Mas como tudo isso começou?
Por volta do século X, na China, surgiu um procedimento em que trituravam cascas
de feridas provocadas pela varíola e assopravam o pó no rosto das pessoas. Isso
fazia com que tivessem contato atenuado com o vírus da doença, presente no pó.
Ainda não se sabia da existência dos vírus, mas podemos perceber a intuição de
que o contato indireto ou mais fraco com alguma doença poderia “blindar” a
pessoa.

O surgimento do termo “vacina”
Edward Jenner nasceu em Berkeley, na Inglaterra, em 17 de maio de 1749. Com
apenas treze anos de idade, já ajudava um cirurgião em Bristol. Sua família era
grande, sendo o oitavo entre nove irmãos e recebeu uma rígida educação.
Formou-se em medicina em Londres, e, em seguida, retornou a sua cidade natal,
onde realizou experimentos relativos à varíola, que, na época, era uma das
doenças mais temidas pela humanidade. A varíola matava cerca de 400 mil pessoas
por ano.
Em 1789, ele começou a observar que as pessoas que ordenhavam vacas não
contraíam a varíola, desde que tivessem adquirido a forma animal da doença. O
médico extraiu o pus da mão de uma ordenhadora que havia contraído a varíola
bovina e o inoculou em um menino saudável, James Phipps, de oito anos, em 4 de
maio de 1796. O menino contraiu a doença de forma branda e, em seguida, ficou
curado.
 |
Edward Jenner |
Em 1º de julho, Jenner inoculou no mesmo menino líquido extraído de uma pústula
de varíola humana. James não contraiu a doença, o que significava que estava
imune à varíola. Estava descoberta a primeira vacina com vírus atenuado que, em
dois séculos, erradicaria a doença. Phipps foi o décimo-sétimo caso descrito no
primeiro artigo de Jenner sobre vacinação, “Um Inquérito sobre as Causas e os
Efeitos da Vacina da Varíola”.
Quando relatou a sua experiência à Royal Society - a Academia de Ciências do
Reino Unido -, no ano seguinte, suas provas foram consideradas insuficientes. O
médico realizou novas inoculações em outras crianças, inclusive no próprio
filho. Em 1798, o seu trabalho foi reconhecido e publicado. Em um primeiro
momento, sua pesquisa foi ridicularizada, sendo denunciado como repulsivo o
processo de infectar pessoas com material colhido de animais doentes. No
entanto, os benefícios da imunização logo se tornaram evidentes.

O reconhecimento em seu país só foi alcançado após médicos de outros países
adotarem a vacinação e obterem resultados positivos. A partir de então, Edward
Jenner ficou famoso mundialmente por ter inventado a vacina. Em 1799, foi criado
o primeiro instituto vacínico em Londres e, em 1800, a Marinha britânica começou
a adotar a vacinação.
Mas desse episódio até o surgimento das vacinas como conhecemos hoje houve um
grande período decorrido. Em 1881 o cientista francês Louis Pasteur começou a
desenvolver a segunda geração de experimentos nesse sentido, para combater a
cólera aviária e o carbúnculo. Ele sugeriu o termo “vacina” para batizar suas
invenções laboratoriais, em homenagem a Edward Jenner.
 |
Louis Pasteur |
A partir de então, as vacinas começaram a ser produzidas em massa e ajudaram a
eliminar ou controlar inúmeras doenças que assolavam a humanidade. Hoje todos
estamos com as esperanças voltadas para uma vacina eficiente contra o novo
coronavírus. Os grandes avanços científicos são conquistados, muitas vezes, com
velhas intuições que nos acompanham há séculos.
Aliados poderosos: vacina e saneamento básico
Prevenção e higiene são mesmo imbatíveis. No Brasil, no início do século XX, o
sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado para chefiar o Departamento Nacional de
Saúde Pública e promoveu a revolução sanitária que, com tratamentos de esgoto e
uso de vacinas, acabou com muitas mortes desnecessárias, promovendo um aumento
da expectativa de vida.
Para que cada vacina chegue à população são gastos anos de estudos e pesquisas,
além de muito dinheiro em investimentos tecnológico e científico. Mas elas dão
resultado e, aliadas a políticas de saúde pública, evitam gastos com tratamento
e perdas humanas para as doenças.
 |
Oswaldo Cruz |
No Brasil, vários tipos de imunização são distribuídos gratuitamente em postos
de saúde e em campanhas periódicas, com o objetivo de erradicar, eliminar e
controlar as doenças imunopreveníveis.
“Quando você toma uma vacina contra a gripe, está imunizado contra um
determinado vírus para o resto da vida. O problema é que o vírus da gripe é
mutante e a cada ano é preciso fazer uma vacina diferente. Com o vírus da Aids é
assim, mas em um nível mais acelerado de mutação. Esse é um dos motivos para que
a vacina contra o HIV ainda não tenha ficado pronta”, conta Kawataba.

A carteira de vacinação
Assim que nasce, cada criança realiza o teste do pezinho, tem seu registro de
nascimento feito e, junto com sua documentação, recebe a carteira de vacinação,
com dados de peso, tamanho e o controle das vacinas que já tomou e quais ainda
deve tomar.
Por volta dos dez anos de idade, a criança termina de receber todas as doses de
imunização, mas deve continuar a tomar as indicadas pelas campanhas de saúde,
como a de febre amarela, tétano, dentre outras. Em determinadas épocas, como
durante a gestação, na terceira idade ou, para quem tem doenças crônicas, em
períodos sazonais do ano, algumas vacinas são mais que recomendadas.

Regiões que não tem uma estrutura de saneamento adequada são afetadas ainda por
doenças que já deveriam estar erradicadas, como a febre amarela. Por isso, quem
viaja para determinados locais precisa estar com a carteira de vacinação em dia.
Alguns países, como Austrália, África do Sul, Arábia Saudita, China, Egito,
Uruguai e Rússia exigem, inclusive, o Certificado Internacional de Vacinação e
Profilaxia (CIVP) para permitir o ingresso.
Crianças e adultos que vão para áreas endêmicas da febre amarela (Amapá,
Tocantins, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Roraima, Amazonas,
Pará, Goiás, Distrito Federal e alguns países da América Latina, África ou Ásia)
devem tomar a vacina contra a doença pelo menos dez dias antes de embarcar.
A vacina contra a febre tifóide também é muito importante. Ela deve ser tomada
quando o destino é um local com saneamento básico precário, como o Norte e o
Nordeste do Brasil, e regiões da Ásia e da África.

As 13 principais
vacinas que crianças devem tomar para evitar doenças
1) BCG
Protege contra formas graves da tuberculose. É aplicada no primeiro mês de vida
do bebê, no braço direito. As reações, normais, ocorrem semanas depois. Limpeza
local com água e sabão é suficiente para cuidar.
2) Hepatite B
Eficaz e segura, seu nível de proteção chega ao nível de 95%. A aplicação é
recomendada no primeiro dia de vida, doze horas depois do nascimento. A vacina
tem três doses: as duas primeiras com intervalo de um mês, e a terceira, seis
meses depois da primeira.
3) Hepatite A
No calendário básico de vacinação no Brasil desde 2017, é administrada em dose
única para crianças entre 15 e 23 meses.

4) Penta / DTP
A proteção nesse caso é contra cinco doenças: hepatite B, coqueluche, tétano,
difteria e infecções causadas pela bactéria Haemophilus tipo B.
As crianças devem tomar aos 2, 4 e seis meses de vida. Os reforços são tomados
aos 15 meses e aos quatro anos.
5) VIP / VOP
Apesar de ter um nome não muito conhecido pelo público em geral, é extremamente
importante e protege as crianças contra a poliomielite/paralisia infantil.
Também é aplicada aos 2, 4 e 6 meses de vida e os reforços são aos 15 meses e
aos 4 anos de idade e durante as campanhas nacionais de multivacinação.
As três primeiras doses são da Vacina Inativada Poliomielite (VIP) e injetáveis
(aplicadas diretamente na pele com uma seringa). Os reforços são do chamado
Vírus Atenuado (VOP), em gotinhas.
6) Pneumocócica 10-valente
Essa vacina protege as crianças contra dez subtipos da bactéria pneumococo. As
doses são aplicadas aos dois e aos quatro meses e o reforço é quando a criança
completa 12 meses.
7) Rotavírus
Tomada em duas doses – aos dois e aos quatro meses -, a vacina deve ser tomada
no prazo correto e protege contra uma grava infecção gastrointestinal que pode
levar à morte por desidratação.

8) Meningocócica C
Aplicada aos três e aos cinco meses de vida, tem um reforço aos 12 meses.
Protege contra a Meningite C, doença que pode causar lesões cerebrais
permanentes e surdez.
9) Febre Amarela
Essa vacina é tomada em dose única, aos nove meses de idade. Há algum tempo
existia um reforço aos dez anos, porém, houve uma modificação no esquema vacinal
e essa dose extra é levada somente para áreas de risco.
10) Tríplice Viral
Protege contra caxumba, rubéola e sarampo. É disponibilizada na rede pública.
Devem ser aplicadas duas doses: a primeira aos 12 meses e aos 15 meses. O
reforço vem aos quatro e aos seis anos de idade.

11) Tetra Viral
Disponível na rede privada, oferece proteção contra sarampo, rubéola, caxumba e
catapora (varicela). É aplicada aos 15 meses, no reforço da Tríplice Viral.
12) Influenza
Vacina que protege contra a gripe, deve ser tomada uma vez por ano pelas
crianças com idade entre seis meses e cinco anos.
13) HPV
Voltada para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 12 e 13 anos. O chamado
Vírus do Papiloma Humano (HPV) é transmitido sexualmente e está relacionado ao
câncer do colo do útero. A meta com essa imunização é proteger as crianças bem
antes do início da vida sexual, e consequentemente, reduzir os índices desse
tipo de câncer.

Qual a diferença entre soro e vacina?
Tanto o soro quanto a vacina possuem o mesmo objetivo, a imunização. Porém,
atuam de maneiras diferentes no corpo humano.
Os soros e vacinas são dois produtos chamados de imunizadores, pois atuam no
nosso sistema imune e evitam que antígenos causem-nos danos. Por serem
fabricados a partir de organismos vivos, essas duas substâncias recebem a
denominação de imunobiológicos.
Apesar de ambos serem imunizadores, os soros e as vacinas apresentam algumas
diferenças bastante características. As vacinas, diferentemente do soro,
protegem-nos de determinada enfermidade. Esse é o caso da vacina contra a gripe
e o HPV, por exemplo. As vacinas também são fabricadas a partir de agentes
patogênicos mortos ou atenuados, ou seja, que não podem nos fazer nenhum mal.
Quando uma vacina é aplicada, o corpo inicia a fabricação de anticorpos contra o
antígeno e também produz células de memória. Se posteriormente formos expostos
ao mesmo agente, nosso organismo será capaz de produzir uma resposta imunológica
mais rápida e, consequentemente, destruirá o antígeno antes que ele cause
qualquer dano à saúde. Por estimular o sistema imunológico, dizemos que esse é
um tipo de imunização ativa.

O soro, por sua vez, não possui poder de prevenção, e sim poder de cura. Nesse
caso, o produto a ser aplicado no nosso corpo são os próprios anticorpos, não
sendo necessária a produção dessas substâncias pelo organismo. Em virtude dessa
característica, dizemos que se trata de uma imunização passiva.

Principais
fontes de pesquisa
http://imunevacinas.com
https://www.spdm.org.br
http://nuclearsul.com.br
https://www.bio.fiocruz.br
https://brasilescola.uol.com.br
https://www.biologianet.com