Reforma agrária é assim
    Antonio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré)

 

 

Cabôco Mané Lourenço,
Meu colega e meu amigo
Que pensa aquilo que eu penso
E diz aquilo que eu digo,
Nós somos da mesma laia
Dos coitados que trabaia
Ou na diara ou na meia
Nós pertence a mesma crasse
Destas criança que nasce
Inriba da terra alheia.
Era só o que fartava,
Deus fez a terra pra gente
Prantá feijão, mio e fava,
Arroz e toda semente,
E estes latifundiaro
Egoísta e uzuraro
Sem que nem pra que se apossa,
E nós neste cativêro
Sendo agregado e rendero
Da mesma terra que é nossa.
Amigo, o que você pensa,
Onde a chente vai chegá
Com esta grande sentença
Sem terra para trabaiá?
Quem presta atenção descobre
Que o sacrifício do pobre
É de arrupiá o cabelo,
Derne o campo até a praça
Quanto mais dia se passa
Mais omenta o desmantêlo.
Ninguém vê ninguém repara
Nosso grande padicê
Por isso a Reforma Agrara
Nós mesmo vamos fazê,
Nós todos juntos, os em terra,
Por vale sertão e serra
Promovendo uma campanha
Abalando toda gente,
Ficando assim igualmente
Furmiga quando se açanha.
Ta tudo correndo istreito
Quando um geme o outro chora,
É preciso havê um jeito
Pra vê se a coisa miora,
Nós matuto brasilêro
Vivendo no cativêro,
As terra desta nação
Pra todo lado se espande
Dominada pelos grande
E os pobres na sujeição
E você, Mane Lorenço,
Que tem a voz forte e grossa
E pensa aquilo que eu penso
Vai gritando: a terra é nossa!
Leste, Oeste, Sul e Norte,
Uvindo este grito forte
Com corage se prepara
E assim com esta união
Sem precisá de lição
Nós faz a Reforma Agrara
(...)

 

 

Responda:

1. Quais formas de trabalho na terra são citados no poema?


2. O que o poeta quer dizer com os versos:


“nós matuto brasilêro/vivemo no cativêro/ as terra desta nação/ pra todo lado se espande/dominada pelos grandes/e os pobre na sujeição”?


3. Qual o significado de reforma agrária, na visão do poeta?


4. Os versos abaixo apresentam duas possibilidades de uso da terra. Indique qual você acha mais justa e explique por quê.

 

Uso da terra 1 : “era só o que fartava,/Deus fez a terra pra gente/prantá feijão, mio e fava,/ arroz e toda semente”