As Revoluções burguesas na Inglaterra
    José Tadeu Cordeiro

 

 

Na Inglaterra o Estado evoluiu da Monarquia Nacional (1066) à Monarquia Absolutista (Tudor-1485) até a monarquia Parlamentar (Revolução Gloriosa-1688).


    Essas mudanças decorrem de transformações que ocorreram nos campos econômicos, sociais e políticos de uma sociedade rural (feudal) que aos poucos se transforma numa sociedade manufatureira, comercial e por último, industrial.


    No campo econômico, a Inglaterra atravessa no século XV, e nos seguintes, uma vigorosa expansão manufatureira e mercantil. Os camponeses são expulsos da terra, num processo conhecido como “cercamentos” onde os nobres transformam a propriedade compartilhada da terra em propriedades privadas, cercando-as, para a criação de ovelhas, que exigia poucos trabalhadores, expulsando da terra uma parcela importante de camponeses, colocando um fim ao sistema de propriedade feudal.


    Os cercamentos possibilitaram a formação de uma nobreza aburguesada (no sentido de voltar à atividade rural para busca exclusiva do lucro), que após expulsar os camponeses de suas terras, utilizou-as para a criação de ovelhas, cuja lã servia de matéria-prima para as manufaturas urbanas.


    As manufaturas, por sua vez, utilizava-se da lã e da mão de obra excedente, proveniente do campo para produzir tecidos, que eram vendidos em toda a Europa.


    No plano político, a nobreza e a burguesia, intimamente associados em suas atividades econômicas, constituíam o suporte da monarquia absolutista, implantada na Inglaterra pelos Tudors, em 1485, atingindo o apogeu durante o governo de Henrique VIII (1509-1546).


    Em 1534, após seu pedido de divórcio de Catarina de Aragão ser rejeitado pelo papa Clemente VII, Henrique VIII proclama-se chefe da Igreja na Inglaterra, suprimindo as ordens católicas, confiscando suas propriedades e criando a Igreja Anglicana. A nacionalização da Igreja se fez sem grandes alterações dogmáticas. Mas Henrique VIII separou-se de Cataria de Aragão e casou-se com Ana Bolonha.


    Com a morte de Henrique VIII (1546) assume o governo o duque de Somerset (como regente de Eduardo VI) partidário do calvinismo, o que levou a um aprofundamento de Reforma religiosa na Inglaterra. Eduardo VI morreu em 1553, deixando o trono para sua meia irmã Maria Tudor, católica, casada com Felipe II, de Espanha. Com a morte de Maria Tudor (1558), sobe ao trono Elizabeth (filha de Henrique VIII e Ana Bolonha), que suprimiu o catolicismo e reintroduziu o anglicanismo como religião oficial na Inglaterra (1558-1603).


    É importante perceber que as lutas religiosas intensas são, também, formas de expressar apoio a monarquia. Os católicos predominavam na nobreza, apoiavam a monarquia absolutista. Os anglicanos na nobreza e na burguesia, principalmente aqueles beneficiados com a expropriação dos bens da Igreja de Roma, apoiavam a monarquia, mas queriam limitar o poder dos monarcas. Os presbiterianos, mais presentes na grande burguesia e entre os escoceses, queriam uma monarquia constitucional. Os puritanos, liderados pela pequena burguesia e pelos trabalhadores de Londres, queriam a República.


    James I (1603-1625) procurou fortalecer o absolutismo e consolidou o anglicanismo, desencadeando ferrenha oposição dos católicos, calvinistas, que deram início à migração rumo a América do Norte.

 


    Seu sucessor, Carlos I (1625 – 1648) se recusou a jurar o Bill of Rights que garantia os direitos dos cidadãos (senhores) contra prisões arbitrárias, principio seguido desde 1215. Enfrentou grande oposição do Parlamento, que permaneceu a maior parte do tempo sem ser convocado. O Parlamento se opôs a maiores gastos (maiores impostos) com a tentativa de anglicanização da Igreja na Escócia. Por isso o Parlamento, convocado em 1637, para votar o aumento das despesas, foi dissolvido uma semana após. Novamente convocado para autorizar o aumento de despesas, em 1640, agora para enfrentar uma revolta católica na Irlanda, aumentam as divergências do governo monárquico com o Parlamento e, a tentativa de dissolve-lo novamente, lança a Inglaterra numa guerra civil.


    A guerra civil assume um caráter religioso, alinhando-se ao lado do rei os católicos e os anglicanos, enquanto a burguesia puritana se une ao Parlamento com o apoio dos presbiterianos escoceses e da população urbana de Londres.


    Em 1644, Oliver Crowwell assumiu o comando do exército puritano, radical e republicano (Parlamento), reorganizou-o obtendo importantes vitórias, que culminou com a prisão do rei Carlos I. Divergências internas (os puritanos eram a favor da República, enquanto os presbiterianos eram a favor da monarquia constitucional), permitiu a fuga do rei. Em 1648, Crowwel derrotou o exército real e levou Carlos I a julgamento por traição. O rei foi julgado, condenado e decapitado, dando início a República Puritana (1648-1659).


    A República reprimiu com violência a rebelião católica na Irlanda, massacrando os revoltosos e distribuindo suas terras entre protestantes ingleses, dando início a uma luta que permanece atual.


    Em 1651, Crowwell editou os Atos de Navegação, reservando aos navios de bandeira inglesa o transporte de mercadorias procedentes ou destinadas à Inglaterra. Esta medida consolidou o interesse naval inglês, prejudicando seus concorrentes holandeses.


    Em 1653, Crowwell derruba o Parlamento, instaurando o Protetorado (ditadura), com o apoio do Exército e a complacência da burguesia, amplamente beneficiada em seu governo.


    Em 1659, com a morte de Crowwel, assume seu filho Ricardo, que não conseguiu levar adiante seu governo e renúncia no ano seguinte. A monarquia é restaurada, com Carlos II (filho de Carlos I, executado pelos puritanos) assumindo o poder (1660 -1685). O rei é simpático aos católicos (ele foi educado na França, católica e absolutista) o que prejudicou sua relação com o Parlamento, que lhe impôs vários revezes, como a criação do hábeas corpus (uma das maiores conquistas do cidadão) e de uma lei que impedia os católicos de assumir cargos no governo (uma retaliação, uma vez que o próprio rei era católico).


    Com a morte de Carlos II, assumiu o poder seu irmão James II, aumentando a crise do rei com o Parlamento. O rei tentou restaurar o absolutismo e o catolicismo na Inglaterra, o que explica a ferrenha oposição do Parlamento. Em 1688, o Parlamento convida Guilherme de Orange, casado com a filha de James II, para assumir o trono inglês. Anticatólico e antifrancês, Guilherme de Orange desempenha o papel que lhe impõem a burguesia inglesa, jurando a Declaração de Direitos (1689) e consolidando a Monarquia Constitucional.


    Em 1714, Jorge I assume o trono (sucedendo a Ana, filha de Guilherme de Orange), dando inicio a dinastia de Hanover, que criou a base do que viria a ser a Monarquia Parlamentar moderna. Com ele, a maioria parlamentar tornou-se requisito indispensável para a formação do Ministério, que por sua vez era presidido por um primeiro-ministro.


    Concluindo, a Revolução Gloriosa representa uma solução de compromisso entre a nobreza e a burguesia, isto porque a evolução do capitalismo na Inglaterra, possibilitou um aburguesamento da nobreza ao mesmo tempo em que permitia um enobrecimento da burguesia, o que levou a uma conciliação de seus interesses, condições que não se repetiram, por exemplo, na França do século XVIII.


    No plano econômico, a Revolução Gloriosa criou as condições para a substituição do mercantilismo pelo liberalismo econômico. A ascensão da burguesia ao poder possibilitou a liberação da economia dos entraves econômicos do mercantilismo. Assim, as forças produtivas do capitalismo inglês, livre do intervencionismo estatal, do protecionismo alfandegário, da regulamentação da produção e dos monopólios coloniais, puderam expandir-se plenamente, num regime de livre concorrência.

 

Interpretando o texto

1ª Procure estabelecer uma relação entre os grupos religiosos, as classes sociais e as suas representações políticas durante as guerras civis?


2ª Porque afirmamos que as lutas deste período, na Inglaterra, não são só religiosas?


3ª Explique a origem da República Puritana? Quais as principais iniciativas de Crowwel?


4ª Como se forma a Revolução Gloriosa? Qual o sentido dessa revolução?


5ª Como funciona a Monarquia Parlamentar (moderna)?